quarta-feira, 28 de abril de 2010

“Deu-me vontade de escrever um poema:
Cabeça de tatu que vomita pelo cú!”

sábado, 3 de abril de 2010

Vem a lua nova, vem a nova era.
Vem o novo prato de trigo para os
Três tristes trapezistas de meu nariz
E esta curva de ombro trás cor às sombras,
Respira no fundo do mar, no fundo da nuvem.
Dá a força do meu trabalho, de parto, de perto,
Do porto em que desaguo nú e aberto,
Como um peito cheio de saudade, meio certo,
Meio estúpido, meio sábio. Um sábio sem Rei,
O Rei sábio sem graça, enquanto sem sua cachaça...
Delicado em seu castelo de açúcar e graxa,
Tão impermanente, de sal, idade e muitos dentes.
Vem um vento, vem um sino. Eu, tentador de mim,
Me ensino a rezar na água da janela,
Me doura o sorriso do tempo dela.
Será que ainda espera, flores de "será?", em mim?
Vem melhorar este olhar, flor de vênus e capim.

sábado, 20 de março de 2010

Inveja
Desgraça
Baderna
Bedelho

sexta-feira, 19 de março de 2010

Poesia presa
É um canto de mágoa.
Deságua na carne
Um pranto, uma chaga.
Imprime dos olhos
Uma lua sem prata,
Uma gargalhada entalada
No gargalo da agonia.

Poesia presa.
Presa por um bixo perigoso.
Prosa de uma página vazia.
Farsa de um louco desamoroso.
Queda livre ardentemente fria
Em direção a um fígado quente
E a espora de um escorpião
Pior, muito pior que dor de dente,
Ou que um prego no coração.

Poesia presa.
No ventre de uma enguia.
Ébria no afeto, atravancando
Dromedários no deserto.
Um explosão de lama
Na barriga mole de um feto.
Desgarrado de sua trama
Ele gira e torna-se cego.
Como um monstro que não ama.
Poesia presa no ego.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Estas flores, enterradas em minha pele,
Ferem, mas apenas
Querem ser palavras
Pequenas.
Platinas.
Um grito agudo... e tão mudo.
Que encontra na morte
A presença, essência,
Da colméia da vida.
Querida.
Pobres flores partidas, paridas.
Apartadas do silêncio...
(o meu, o teu)...
Esqueleto de terra batida
Sopra esse tal de coração,
Que me recebe, e convida
Para um banho,
Banho de vida...
Sóbria, loucamente.
Ébria...
Feita de cobre, silvestres
Morangos... um aroma nobre
Que me sobe as pernas,
Penas... Gelo de plumas
Ácidas como chumbo,
Mais solitárias que o mundo...
Um, dois, três...
Sumo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Difícil escrever o amor.
São palavras de ilusão.
São imagens tão perfeitas
De uma história nada feita.
Nessa triste gargalhada
A confusão está armada.
Pois espera-se uma casa
E o que se ganha além de nada?
Sofre o corpo pelas horas
Por ter medo de ir embora.
Este amor é uma trava,
Ilusão maior da palavra.
Como silenciar o pranto
Que vigora no desencanto?
Sei que tentas, sei que choras
A verdade está, como sempre, fora.
E não há mais que a verdade
No toque macio da liberdade.
Em mim, destruo tudo...
Pois tudo que sou não me pertence.
Entreguei tudo as mãos tuas
Desejando retornar ao teu ventre.
Mas este espaço tão bonito
Não é meu, eu acredito.
E não há nada nesse mundo
Que chore mais que meu umbigo...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Alma, vem à toa no meu céu
Pinta com uma lágrima de cor
Salva o menino da aranha
Onde a garganta mais arranha.

Chuva, um pretexto a mais pra
Chorar? Porque a dor não mais será
Triste, como um rio colorido
De um amor mais que comprido.

Sopra minha pipa pelo vento
Oceano doce de tempo
Na cortina da minha casa,
Flor-de-lis na tua casa.

Vamos. Nosso passo segue a canção
Tempo, a verdadeira ilusão
Noite, na passagem do tufão
Você, dona do meu coração.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O caminho dos anjos é uma estrada sem rima
Se o anjo por completo não existe em tua retina
E não pede por amor para voar e alcançar o sol.
“Sê anjo caso não queira ser humano louco, crítico”,
Que se alimenta de paixão como cascas de árvore.
Que sonha quando acorda, dorme quando chora.
Melhor é saber-se inteiro, profundamente amado por si.
“Sê bicho, alimento, voz”, tudo menos anjo, não é hora.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A Lua da canção tornou-se nova.
Renovou-se com a imigração dos porcos.
Porém não largou mão da nova bossa.
Não desistiu de existir como um pássaro.
E fez ecoar seu brado bárbaro
Nos campos feios do inferno.
Lua-do-inferno.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Minha poesia encontrou-se com a guilhotina.
A vida é a lâmina.
Preciso resgatar minhas cortinas.
É imprescindível não morrer ainda, ou morrer.

No entando, você é fria.
Fria como a chuva.
Serena como a escuridão
Manchada de ilusão turva.

Estou com a juba amarrada,
Sóbria e loucamente, aos meus pés.
Vou no lombo dessa mula arrasada.
Cabeça de poesia decepada.

Arco de emoções desamparadas.
Meu sapato já é cansado de caminhar.
Vago sozinho por esta jornada,
Desejando sozinho não estar.
Pare!
A pausa
Pede!

(ritmo lento)

Decida-se!
Cão
Covarde!

Todos
A postos,
Marujos!

(TODOS A POSTOS!)

a Nau
Perecerá
Ao som
De minhas
Garrafas de
Cianureto!

(Coragem)

Espero que seja,
Minha pobre
Morte,
Eficiente.

(Eutanásia)

Partindo
Vai o
Navio.
Velas aos
Ventos!
Larguei a
Mão do
Tempo.

(Fim)
Alguns dias são melhores que outros.
É isso ai.
"Cuidado com a cabeça!"
Não tome nota.
Eu sinto que sou transitivo,
Às vezes eu simplesmente
Não quero falar sobre nossa
Psicologia.
Fico farto.
Frequentemente penso
Como seria bom
Se todos pudessem
Ficar em silêncio.
Há vezes que desejo apenas
O teu silêncio, olhos, boca.
Aqui dentro não existe perfeição,
Só um poço com tantas im...
Nem psicologia, nem sentimentos.
Equilíbrio, mas,
Basta!
Venha comigo, é tudo que peço,
E vamos construir uma casa!
Vamos sair daqui!
Mergulhar com peixes elétricos.
Vamos de barco para uma ilha na costa?
Isso eu posso fazer.
Mas este mundo, este mundo todo,
A inércia e a mesmice, os diálogos,
Eu não posso fazer,
Porque não o quero
(Não me deixe aqui)
Vamos nos enfeitar de objetos.
Dormir. Dormir. Para sonhar.
Não tome nota.
Equilíbrio
E muita saudade.
Vida.
Não há o que dizer.
Traga de volta, vento,
Traga de volta a vida.
Deixa o sangue ser vermelho,
E olhos voltarem para os meus.
Vem voando, mas venha rápido.
Eu não sei das coisas, não sei!
Apenas sei de nada,
Porque nada é tudo que sou.
Então porque esperar?
Traz de volta nosso umbigo
Que é para eu nunca mais chorar.
Vamos fazer um cinema,
Vamo construir um teatro da vida e morte,
Pois é o único lugar onde eu quero estar.
Há o amor vital, a força energética, mística, contemplativa e universal. Díficil de ser tratado cientificamente. Trata-se do amor altruísta, o qual não pede nada para si. É o amor de buda.

Há o amor por coisas, o amor por pessoas e o amor por entidades. Trata-se do amor egocêntrico, onde 2 egos tornam-se 1, assim como 1 torna-se 2. É o amor de bunda.

Ambos são parte de uma coisa só, assim como tudo é que pensado. Como uma forma de organização, caminho. Nunca tomados por verdades, mas a necessidade de quebrar preconceitos e desprender-se da idealização. Ao contrário da paixão, que é ingênua, mas completamente necessária para manter o balanço, como um mergulho que simplesmente decidimos mergulhar e ponto final.

Há de ter equilíbrio. Nesse todo, todas as formas de amor podem ser vitalizantes, mas também podem buscar a desvitalização, utilizando-se de formas externas, buscando atingir o interno. É o principio dos opostos, o amor e a morte. Nem um, nem outro: equilíbrio.


E a depressão, enfim? É o próprio amor... quando bate em retirada...
Devo-te amor, não nego.
Quero-te, amor. Não nego.
Não toque assim este coração tão frágil.
Não seja o aço da torre fria.
Prefiro a dor do que ter espaços.
Neste vazio não posso mais existir.
Eu vi a mosca voar vã e solta
E tudo me diz que devo ir junto.
Estou sofrendo, meu amor.
Sofro porque envelheço a cada dia,
E a cada dia renasço em ti.
Tanta dor por apenas um beijo?
Tanto frio apenas pelo infinito?
Eu não tenho infinito.
Estou chorando.
Estou apenas chorando no vazio.

O que você vê?
"Eu sem você não tenho porque
porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz
jardim sem luar
luar sem amor
amor sem se dar
E eu sem você
sou só desamor
um barco sem mar
um campo sem flor
Tristeza que vai
tristeza que vem
Sem você meu amor eu não sou
ninguém"...

V. de Moraes
Saudades... Será que ela me conhece?
Saudades... Será que ela já me sabe?
Saudades... Será que ela me existe?
Espanto a todos os malditos não nascidos,
Que virão depois de mim, perpetuar a maldição.
Que saibam, são eles todos merecidos
Do licor dos versos que provoca solidão.
Estou completamente só.
Nunca nasci e morri tanto como agora.
Fui abortado do todo sem escolha.
Não há outro em mim,
Pois vivo demasiado entristecido por mim.
Se compartilho-me, partilho-me.
Se parto em tua direção, corres, foges...
E eu renasço, como um parto, acordo.
Não divido minha paixão com nenhuma violeta.
Todas foram pisoteadas
Por uma nave que não posso mais controlar...
Estou tão perdido que mal posso sonhar...
Tão infinito que mal posso me ver.
E você é tão veloz, tão algoz, que desaparece cedo.
Só queria o conforto de chorar por teu pranto.
Me dói na carne ser tão só... tão só...
Onde está meu reflexo, onde estão meus filhos...
Onde está a tranquilidade do caos de tua pele?
Estarei respirando quando notares que somos um?
Meu coração foi arrancado por meus dedos,
Para ser entregue a você como a prova do tempo.
Estou tão só, que nem sei mais como é estar só.
... vai meu coração, pede perdão, perdão por ter amado.
Tenho flores mortas
Na janela do quarto.
Ao som de saxofone
Eu aparento morrer.
Ainda sinto o cheiro
Do perfume de cravo.
Quando durmo vasto
Teus olhos posso ver.
Problemas! Ó, mundo! Como tu tens problemas! Se falha a luz, tudo dá errado. Itaipu fica inativa por algumas horas, e metade do país sem energia elétrica. Bendita eletricidade, esse é o caos que todos merecem. As crianças recém nascidas morrem, os sorvetes derretem...
Caralho.
Às vezes este cantinho pode ser perigoso.
Entrego tudo nas mãos de quem sabe reconhecer o banal, o bananal,
De macias maçãs-do-rosto sobre o pomar da ponta de seu nariz.
Me canso de ter medo,
Puro medo de ser mudo.

Eu sou pequeno.
Sou o medo do mundo.

Talvez eu não seja
Algo que você(eu) veja.

Eu quase não tenho sentidos,
Sofro, sofro, quieto, quieto.

Eu sou uma mentira.
Eu não sei o que mentir.

Sou uma decepção que devasta.
Um grande nada que se basta.

Sou o começo do fim, como as flores.
Mas eu desconheço a mim.

Eu tenho apenas essa forma
Ela é tudo que eu tenho.

Eu não me chamo mais João.
Não posso mais ser ele. Ele são.

Me proteja. Transforme minhas mãos.
Sou apenas uma mulher presa.

Minha força bruta é forte.
Lança-me no abismo. A mulher e a morte.

Eu sou medo e minha pureza me apavora
Não tenho pressa, não tenho. Perdi a hora.

Meu destino é permanecer.
Minha luz, só, esquece de ser.

Não há ninguém, ninguém que mereça
Tanta solidão. Nem uma nesga do mundo.

Sou o fraco, o que você queria?
A minha força vem por que sou calmo.

No quadro, uma tolice de apaixonado.
Um ser que ama sofrer, ser enganado.

Ao mesmo passo que se sente cansado,
Meu coração sabe que vai morrer.

E quando ele morrer, irei junto e feliz.
Diga que quase amei, foi por um triz!

Estou mais vivo do que nunca.
Disso as paredes já suspeitam.

Não leia mais sobre tudo,
Não leia tanto, meu coração se apagou.

Meu coração se apagou.
Meu coração se apagou.

Meu coração é uma vida separada.
Sem teu corpo, para sempre há de ser nada.

Esse coração é um banco de praça...
Pintado com as cores da desgraça.

Meu coração é tolo e antigo.
Para ser lido, precisa ser esquecido.

Ele sabe que há de se esquecer
Por ter sabido tanto sofrer.

Logo essas palavras nascem...
Logo essas palavras morrem...

Meu medo, meu peito, nasceram sem morrer.
Minha melhor amiga é a dor, sem saber.

Espalho por minha pele meu espírito.
Poderá sentir o aroma doce, dito?

Vou dormir. Vou dormir para sempre.
Não sei mais acordar para sempre.

Estou pronto. Tenho sono.
Estou pronto. Tenho fome.

Tenho o que tenho,
Cresço para dentro.

Não tenho caminho...
Perco-me só e com frio.

Ando descalço, bebo vinho.
Bebo seu passo, ando sozinho.
Eu continuo a te dizer sobre tudo
Dos absurdos e das coisas da vida
Já deixei cartas no seu criado mudo
E só me resta encontrar a saída

Por um breve segundo
Todo o medo do mundo
Se tornou um alegre jardim

E você me cantava assim
Assim, devagarinho um DÓ
Que me deixou melhor
Acho que foi sua mão
Que fez essa canção

Se a rua vai, voltarei
Sem você eu não partirei...
a vida inteira eu quis ser rei,
mas o que eu sei?


Com sete cores pintarei o meu muro
Um tanto certo é pensar na subida
Num passo tento te envolver nessa dança
E te dar flores, minha meiga querida.

Se o escuro do espaço
Vir aos olhos, num lapso
Estaremos num fragíl capim

Andaremos descalços, enfim.
Acho que é melhor
Não viajar tão só
Pegar estrada e não andar na contramão.

Se a rua vai, voltarei
Sem você não partirei
a vida inteira eu quis ser rei,
mas o que eu sei?
Tento encontrar uma página branca
Mas as lágrimas dos galhos da manhã
Borram a tinta de meu caderno
E apagam meu cigarro, lentamente.

Minha vontade é nula,
Eu apenas tenho que contemplar
As palavra indo embora
E deixando marcas de agonia
Em enormes manchas de meu corpo.

Nesta manhã, eu não sou mais palavras.
Apenas esta página branca...
Sem mais de mim,
Os versos também são brancos.

De que adianta especular
E fazer laços com pensamentos?
Neste chão de seixos em silêncio,
O que sacode o mundo
E perfura o crânio dos pássaros,
É a pura simplicidade do meu canto.

Quanto mais simples,
Maçãs simples, melhor.
Posso então sentir,
Pelo silêncio, as palavras.
Quando a primeira gota escorreu
Ninguém dançava mais do que eu
Mas a chuva é só uma dança
Esquecida.

Do ouro, de volta, se enriqueceu,
E as folhas verdes ele percebeu
Escondendo-se da lua
Na sua vida.

Em breve a memória será o Deus
E os amores que ela perdeu
Serão a chave de uma porta
Proibida.

Foi quando o mundo adormeceu
E a terra toda estremeceu
Com a mágica de Amanda,
Distraída.
Vá embora, pois sofro por ter te conhecido...
Você acabou de perder os meus, antes de tudo...
Tanto pior ou melhor, que vá procurar outros...

Eu sou assim... e você, mente cega,
Vá procurar alguma pedra para seu desamor.
Eu sou feito de carne e osso, sou moço.

E eu mal posso quebrar o gelo daqui.
Se por um segundo regurgitar fogo,
Não te engano. Por que não vens?

Estou mais só que minha própria solidão...

Chove na cidade.
Orgasmo, convulsão.
Você quer que eu brinque de Deus?
Não vai aceitar logo
Que eu sou apenas um coração?
O que mais um peito precisa
Que dois corações à vontade?
Reflexos puros e música.
Eu mesmo nem existo...
Saboreio, triste,
O hálito morno.
O delírio abafado,
E que também não existe...
Você quer que eu brinque de Deus?
Não vai aceitar logo
Que eu sou apenas um coração?
O que mais um peito precisa
Que dois corações à vontade?
Reflexos puros e música.
Eu mesmo nem existo...
Saboreio, triste,
O hálito morno.
O delírio abafado,
E que também não existe...
Não sei mais...
Não quero saber.
Sinto-me cansado...
Profundamente cansado.
Dessa merda toda escrita...
Paredes de cores tão irreais.
Feitas de silêncio... e tempo.
Nada disso me diz mais nada.
Hoje é uma manhã azul, nua.
E eu permaneço frio, nú.
Talvez eu desça os andares vazios...
Toque gaita sob as árvores...
Ou consuma mais fumaça.
Amordaçar a ansiedade...
Talvez eu possa rir
De tudo que me dizem...
Concordar com qualquer tolice...
Talvez eu deva trabalhar com afinco,
Executar canções de amor à qualquer uma.
Não importa. Não sei mais...
Quero dormir no escuro.
Está me consumindo, as palavras...
A poeta.
para onde está me levando?
Nesse inteiro oceano de mim, vejo uma ilha...
Raios! Garras! Fui tomado pela discórdia!
Um bêbado que morreu por ali! Não!
Não é possível, não é claro o suficiente!
Tomara que a mão não fique dormente!
Torpor! Embriagado! Louco!
Tortura ensandecida em minhas vísceras!
Meu caro amigo, astronauta pálido, aracnídeo,
Pergunte mais uma vez ao desamor!
Perdão! Apego à tua morte! Se corte!
Cara pálida, no pó! Seja a verdade,
Você deseja que ela veja
O pior, antes do fim,
O menor, de princípio, enfim!
Arbustos da minha tripa negra! Decrépito, sigo calvo e nú.
Malditos! De Hollywood! Song of freedom! CÚ!
Vai pra merda, deputado! Trepa com a pata do eleitorado!
É um coelhinho que se manda! Ja dormiu mal assombrado?
Vai correndo para a escola, vai cagar no cagador!
Ruminantes! Sacripantas! Esterco das Malvinas!
Espaços floridos da Espanha, Espanha n'Alemanha!
Viva Gana! Gananciosos, profetas, camaradas!
Parceiros de ereção da cizânia!
Bostas de verme! Botas de pixe!
Demônios sem garoa!
Anfíbios abandonados!
Gemas de ovo estragadas, adiciona-se cinco olhos de peixe!
Morra amante da estrada!
Colírio pro meu sol que andava tão seixo!
Uma pedra, uma arma, uma pisada no quadril!
Garfos insaciáveis de encanto, um mármore rosa e frágil!
Um sapato apátrida e apático, paspalho!
Solto a vesícula principal, solte o pum, a após!
A proporção de Deus, no fogo do inferno escroto!
Vil e insensível! Tolo, fétido e filho da puta!
Desejo sua morte, desejo o seu mal, sua sorte avessa!
Role, carne imunda de sangue podre! Caia do penhasco!
Morra comigo num espinho de luz e ódio!
Folclóricos amigos, amargos, bandidos!
Morri, agora. Morra também comigo!
Asco anônimo, fraco antônimo, nenhum...
Nenhum sóbrio ânimo.
Que um piano forte possa ouvir-me todo
Quando jovem eu possuir milhares de anos.
É nessa música que vive a calma aquecida
Por um tanto de martelos e pregos errantes.
Por uma boca linda e perdida,
Pairando o sol no céu de trigo,
Tornando a bondade núpcias.
Sem coragem resta o peito nú.
Humilde verme crú, cor de turquesa...
Evacuando minh'alma cheia de honestidade,
Que corre inteira nesse campo só,
Desafia o eco amargo, átomo artístico,
Amplo de riso, alto de ouvido,
Agonia pobre de tão rica presença...
Podre. Uma rasteira no ser encantado.
Chore por mim, por vidas secas,
Nunca! Negra marca.
Arca jamais navegável,
Jangada que parte do mar!
"O-O-O-O-O MAR!
QUANDO QUEBRA NA PRAIA
É BONITO-O
É BONITO-O-O-O!"
Eu pensei numa frase absolutamente linda, mas no caminho para registrá-la aqui esqueci-a por completo... Era tão linda que meu corpo tragou toda a beleza e não deixou nada para a mente... simplesmente.
Eu preciso saber onde você mora,
Quero tua sala de estar e tua cama,
"Me desespero a procurar alguma forma de lhe falar"...
Não quero as mediações eletrônicas de cobre e aço,
Pois isso me impede de ouvir música na tua voz...
Quero beijar-te até que a tua boca
Troque de lugar com a minha, sem pedir licença.
Quero chorar a chuva na sua frente, como um bebê faminto.
Cansei de ser infinito...
Apenas quero parar...
Estacionar.
Em cima de você, da sua acidez, das suas promessas.
Quero morrer na tua vida...
Quero vida para morrer...
Quero beijos...
E teu endereço grafado num poema bêbado, cheio de sexo e aromas.
Sentir teus seios em meu peito
Quando te apertar de saudade, uma saudade de homem.
E mesmo com meu hálito amargo de solidão,
Que eu possa te dizer nos olhos que amo teu umbigo,
Pois o meu está demasiado só, perdido no meio de mim.
Vem pra mim...
Traga o vinho...
Traga os versos...
Traga amigos, bons e delicados... não gosto dos rudes.
Fique em silêncio ao meu lado por 500 horas...
Diga a todo mundo que tua mão apertou meu pescoço,
E tuas pernas conferiram as minhas num abraço perfeito...
Pois te amo...
"Tristeza não tem fim,
Felicidade sim."


É, Vinicius de Moraes...
O senhor sabia bem disso...

Mas o que eu sei (e você também)?

"E se não tivesse o amor?
E se não tivesse essa dor,
E se não tivesse o sofrer,
E se não tivesse o chorar,

Melhor era tudo se acabar..."


Gracias, Señor. Renasça em mim mais uma vez...

"Coitado do homem que cai
No canto de ossanha, traidor.
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor

Vai, vai, vai, vai sofrer
Vai, vai, vai, vai chorar
Vai, vai, vai, vai viver
Vai, vai, vai, vai amar..."


É, meu Poeta...
Com a sorte e a força, em mil anos luz,
Quem teria coragem, meu senhor?
Quem terá?

"Vai, vai
Vai, vai...
Amar!
viver!"
Derramou. A gota. O lago.
Antes da noite ser toda.
E a gente se deixa derramar junto,
Como um parto, como o mar.
Escorre pelo mundo como gelo partido.
E não se acalma com o gesto, é bonito.
Não fossem negros os cabelos
Talvez não houvesse tanta pressa.
Nesse jogo, a alma confessa
Pois não há mais tanto tempo assim.
Quando a carne é prata precisa brilhar.
Dê-me apenas a luz, em silêncio ou em canto.
Basta que minha mão sorria, de encanto.
Acorde quente numa cama macia. Só assim aprende.
Pede perdão...
As vezes tanta adoração, pequena,
Tem um meigo sabor de solidão...
Esse cheiro de mármore me envolve rosa.
Me pede o arrependimento que ainda não nasceu.
Desce meus orgãos com tempero de estrela.
L'infini roulé blanc de ta nuque à tes reins.
Não me espero assim tão cedo, te quero cedo.
Just take me... like a hand, like a heart...
To somewhere i have never travelled, gladly beyond.

Percebo, sonolento, despetalado,
Que meu querer é somente maior
Que o pedaço de você em mim.
Amo e vivo tanto, e pouco, e muito é o pranto.
O quanto de mim existe...
Nessa maçã de rosto lindo, e triste?
Sua vez de ouvir mais uma vez,
Os sonhos de meus versos tristonhos.
Andei no mundo perdido demais...
Com minha viola atrás...
Olhando a chuva inaugurando o amanhecer.
Prefiro esquecer.

Melhor ser vela na escuridão
Pra você ver
Meu olhar sangrando gemas...
E a escuridão não ser apenas,
Como um raio você vem
E na roupa veste o sol...
Que embeleza o meu lençol.

Sobrevoar os lábios da visão,
Soprando pérolas de vento ao meu refrão
E o eterno sempre amor
Continua em minha vida...
Sinto a flor mais esquecida...
Você devia me escutar melhor.
Mesmo sozinho eu não me sinto só
Não se renda ao medo teu,
Ainda resta a esperança...
Quando se dança essa dança,
Que se trança ao seu melhor...
Fantástico! A tristeza é sensível!
Um gole d'água fresca!
Um sumo de fruta gorda!
Após derreter as flores do vale
Com minhas lágrimas noturnas,
Deparei-me com um conjunto
Entoando o canto erudito
De uma melodia belíssima!
Envolvente e com mui sentimento...
Ora, que momento seria melhor para ouvi-los?
As notas cantadas brilham
Como se todo esse amor não fosse só meu.
Curioso acaso para a minha poesia
Que andava tão solitária.
Mui amorosa, ela deparou-se
Com um breve momento sublime.
Onde a trágica condição harmônica
Enaltece a minha própria condição.
No fundo, tentei tornar-me um melhor entendedor.
Essas lágrimas são necessárias!
Não transmitem nenhuma solução, além de soluços,
Mas ajudam a pensar melhor.
E o amor por que sofre?
Ora, não seja assim tão pessimista.
De que outra forma a vida poderia chorar?
Deixa ela desabafar de vez em quando, homem de deus!
Ela vai precisar.
O que será que serei eu?
Um comedor de cal e caracóis?
Uma folha verde que sossega na fumaça?
O primeiro traço de um bebê,
Ou o último traço de um artista?
O que será que serei eu?
A voz real da pessoa amada?
Uma fuga pelo teu próprio caminho?
Um naco de nuvem nanica,
Ou o riso daquela morena?
O que será que serei eu?
O vigilante de um castelo em chamas?
Um murro que levamos na costela?
Uma breve jornada para casa,
Ou uma última volta ao mundo?
O que será que serei eu?
Um ser que ama em desespero?
Um ser que chora pelo infinito?
Uma pedra que rola no abismo?
Uma paixão que te torna aflito?
O que será que serei eu?
Quem me dera
Poder mergulhar
No mar dos olhos
Dessa menina

De pele clara e rosa,
Oceano que não termina,
Frágil como uma casa,
É seu narizinho, Marina.

Se eu pudesse guardar o mundo
Seria na tua voz que rima.
E quanto menos o tempo passa
Maior o desejo que desatina.

Logo eu fui te conhecer
E suas mãos tão pequeninas
Fez da minha voz meus versos,
Pois ser livre é minha sina.
Essa história de vida...
Me impressiona à beça...
Tento sempre tanto...
... ser nada.
Ah, meus olhos de sangue
Supremos, em fogo, ligeiros.
Rachando seus glóbulos vermelhos
Num aborto totalmente eficaz.
Arando o solo da pele,
Cozendo chás e sóis.
Melhor era todo essa amor se acabar,
Ou talvez recomeçar seu voo.
Gosto da vida como ela de mim.
Gosto da maneira com que brotam,
Afloram e depois florescem, as palavras.
Nos incumbindo de libertá-las,
Sempre mais,
Uma por uma,
De todo o nosso julgamento de dentro.
Aliviando nosso sofrimento
Por exprimir num único tom...
A vida. Que ainda me impressiona.
Porquê é isso, é a vida.
Como o tempo é a vida.
Vida. Palavra estranha, tão imensa...
Vida. Olha aí! Quanta amplidão...
Lá vem ela, sempre.
Também pudera. Sempre imaginei
Coisas assim, imensas e infinitas...
Sempre imaginei a vida, imagino.
E sempre eu quis esquece-la,
De todo o meu coração... mas,
Prepare-se! Aí vem ela, toda, completa,
Olha ela! Olha ela! Viu? Não viu?
Calma! Não se preocupe, dê uma risada.
Logo logo ela vem denovo, e quando vem...
É sempre simples. Sempre inteira.
Não há alternativa, vê? A vida é pra valer, durona.
E eu me pergunto numa situação dessas:
Sabemos que um dia experimentaremos
A não-vida, por eternas partículas de...
De...
De...(bussy)
De...(bussy)
Dê!
Dê!
Dê(bussy)!
Dê para mim essa palavra eu preciso dela!
Vamos lá, vamos lá, vamos!
A palavra João...
A palavra...
"Clair de Lune"
O quê?
"Clair-de-Lune"...
Sim!
Sim?
"Clair de Lune"! É ela!
Encontrei a palavra!
Experimentaremos, inevitavelmente,
A não-vida, por
Eternas
Partículas de
"Clair de Lune"
Moça cor do planalto
Pele azul ouro índia,
Negra e linda,
Rosto de brisa,
Cabelo de prata mais alto
Bravura de Deusa, mito,
Sombra de flores, em bons ares,
É morada da mata, ato frágil.
Meu frágil, macio abril, mulata,
Despetalado nessa moça,
Mel de árvore nasceu.
Essa canção tímida
Quero que você ouça,
Porque já amanheceu.
Rain drops saturday
Chovendo, chovendo, chovendo!
Chove essa água de agosto,
Chove essas pedras.
O ar estava mesmo seco.
Esta tamanha dor me atordoa!
Quero guardá-la num tonel de pinga...
Arrueiros, ossos da caatinga,
Entoo música, alma só, pessoa!

De que lhe vale, Nero, o ouro bandido?
E o tépido trote d'mada?
Seria doce luz a madrugada
Chamar seus olhos por seu apelido?

E uma lágrima me aprofunda
Num soberano mar de sentimento.
Voando baixo sobre o firmamento
Ao céu de fogo ao som do samba e rumba.

Comi virtudes. Vou colhendo estradas.
Escoregando em minhas falcatruas!
Servi ao bel prazer da propria amada,
Amando o terço das mulheres nuas!

Poria o sol na pista de um soldado
Que lutaria contra a própria pança?
Seria o encanto do desencantado,
Ou sua alma que em mim balança?

Formei os frutos do esquecimento
E camuflei o sumo do passado.
Entre o presente, um muro de cimento,
Confiro o amor e morte resguardado!
Para você, que eu não conheço
Mas que amo e, alías, que sempre amarei.
Eu prometo que serei o que tiver de ser.
Juro, você saberá dos pedaços de minha vida
E me será de frágil textura quando dormir.
Quando tu chegar e eu estiver sozinho
Vai ver aquela flor de todas as cores, sozinha.
Quando pousar em mim, como o sol num vasto oceano,
Serei o que te entrega a vida, linda e nua!
Como a noite, serei o escuro de tua sonolência,
O sopro de ar morno que aquece teu rosto.
Quando tu caminhar no deserto do sonho que desatina,
Serei a chuva de pequeninos olhos e pingos de prata.
Apenas serei minha alegria, amarei teu amor.
Como uma raiz, contemplarei o sentido único
Da tua presença. Molhas meu rosto de lágrimas
Quando sorri, quando torna-se minha casa quente.
Você me faz parecer menos só... sozinho sempre.
O instrumento de música que faço será para você,
E para tudo que encontrares no caminho.
Quando você me olhar daquele jeito,
Sentirei o amarelo forte, também o vinho.
Quando me tocar e sorrir, intenso rosa.
Mãos pequeninas, alma infinita como a minha,
Que eu amo e sempre amarei,
Sabendo pouco, quase nada,
Quem é você, ainda.
O homem que sorri a todos indistintamente,
O faz por esconder verdadeira tristeza
Nas profundezas da alma,
Sem ter calma,
Sofre como se tua outra mão
Fosse igual a outra mão de seu pior inimigo.

Sobrevoar nas órbitas do espírito
Com júbilo,
Coragem,
Quem sabe apenas rezar sem saber,
Quem sabe?
Serei eu o nome que todos pronunciam?
Pouco.
Muito Pouco.
Longe de mim,
sim, impossível!

Como gelatina velha, como sabor de casca de árvore,
Serei somente eu meu cúmplice?
Bobagem, quer mais?

Eu tenho que confessar:
Amo alguém que frequenta meus olhos,
Como o mar. E assim como o Sol,
Toca no horizonte sem encostar,
Porque hão de se amar eternamente,
Sem nunca poderem se abraçar,
Pois, ao seu encontro, do mar
A água há de tornar-se nuvem,
E o fogo do Sol se extiguirá.

Mas a minha tristeza,
Minha fragilidade secreta,
São suficientes para mim.

Isto é um exorcismo.
Não suporto mais escrever sobre mim
Envergonhado do mundo.

A raiva tem pressa, se apossa,
Camufla-se nas entranhas.
Torna-se orgânica.
Quando passa só deixa passos
Da incoerência.

Livre-se disso!
Meta a cara nos versos!
A cara da tristeza nos compassos!
No vaso sanitário,
Dê descarga como se fosse
A merda mais repugnante que suas pregas
Jamais regurgitaram!

Foda-se! Burgueses de merda. Serei merda como vocês?
Abandono, será possível alguém também sentir isso?
Tantas comoções...
Por uma simples lembrança...

Para o diabo com você. Eu te odeio.
Eu sou um escroto. Um canalha.
Sou vil como o véu da morte
Do veneno da cascavél de um vício,
Calçificada em tua calçada diária.
Destas palavras desista agora!

Vire esta página. Desligue tudo, sei lá.
Vire o rosto para o lado, não leia mais.
Se não o fizer vomitarei meu brilho
Em tua direção, cego e poderoso, fétido.

Decidi que isso não é mais problema
Para uma criação estupenda como eu.
Um homem chora por ser demasiado feliz.
Muita felicidade leva ao abismo,
O choro alivía.
Recolhe os frutos caídos no chão do pomar
Depois da ventania.

Nunca saia de casa sem pensar em mim.
Como legado, porque desejaria ser lembrado?

Jovem moça, velha moça. Capture aquela noite.
Capture as estrelas, olhos, ameixas, soleiras,
Morangos, morcegos, línguas... Esqueçam!
Agora, talvez, nunca mais sejam os mesmos.

Passe bem o dia, noite ou tarde.
Mas por favor, alma, não se faça de covarde.
Mergulhe, salte, arrisque toda sua quantia!
Odeie minha carne, Queime-a no fogo infâme!
Eu sou uma fratura, cega e sem pudor.
Sou uma pessoa impura, sem moral nenhuma como guia.
Tenho a mesma sensibilidade que uma rã, ou um camaleão,
Porém sou mestiço devido aos meus traços vis e obscuros.
Eu procuro declamar a todos que pouco me lixo às suas expectativas,
Pois odeio meu reflexo tal que não produzo alegria, nem planos, nem felicidade.
Vivo num quarto vazio sobre os pés de todos os outros. Os outros.
Vizinhos perfeitos, amigos fiéis e amantes puros.
Sou um asco na boca das pessoas próximas.
Quero cagar na mente de todos que satirizam e se horrorizam com minhas atitudes bizarras, impulsivas sempre que posso, ou devo.
Derreto meus pés no peito de quem me trair.
Suplico por um momento de pureza total e o que recebo em troca, na maioria das vezes, é distância, distante, tão distante, totalmente longe de alcançar.
Não sou como todas as pessoas que guardam seus órgãos genitais dentro da enclausura de seu caráter previsível e familiar.
Meu caráter é um veneno.
Que mantêm sentimentos tão modernos que minha mente de bicho pelado não suporta compreender.
Quero ir embora daqui, pois parece que minha busca é falha.
Vou para outro lugar, outro país, outro planeta, outra galáxia, outro universo, outro, outro... outro
Sentido, crença de outra vida, eu não desejaria, nem que me matem, sobreviver ao lado de vocês imundos, irmãos de sangue e palavras, sujos como pombos encerados de avenidas transcendentais.
Fora de mim, não desejo sua pureza, nem aceitação, nem pronúncia.
Eu acato apenas a sua renúncia. Renuncie daí, que eu renuncio daqui.
Como uma troca formaremos uma nova aliança com os braços.
Eu apenas ignorarei sua carne enquanto não queiras queimá-la junto à minha. Esquecerei sua imperfeição de maneira que você não precisa mais brincar de se esconder.
O caminho é melhor quando aos poucos.
Quem rende-se a tudo
É porque ama muito.
Ama em demasia.
É o vício de cor vazia.

Tramas de cor verde
Que sente por dentro
Contrações, fome, sede,
Frágeis folhas de coentro.

Teus poucos versos,
Tua sóbria rima,
Tão louca quanto a minha
Tão pouca e mesquinha.

Pouca e mosquinha.
Eu não me aguento, não me quero.
Não posso me levar.
Toda esta fumaça, este inferno,
Esta beleza perdida e despedaçada,
Esse caos em meu sangue.
Fuligens cotidianas.
Sempre dentro, sempre fora.
Palco de sucesso e derrota: meu peito.
Serão estas cenas palavras de poesia?
Poesia. Túnel de rosa, luz de vento,
Irmã mais pura da esquizofrenia.
Ninguém mais está a salvo.
Morram todos em tempo lento,
Ou tornem-se flechas, ao invés de alvos.
Praga, prole, punho, puta, PARA!
Salva-vidas não flores de forma alguma!
Não flores salvar nada além de si!
Alma penada, sofredor divino!
Interrompa esta chaga,
pátria, prata, hino!
Vai te embora filho do desejo.
Vá e não volte tão cedo.
Abre-te como um pássaro ingênuo.
Não cante além de mim!
Vontade de socar o mundo
Com toneladas de filosofia imunda.
A limpeza é triste,
E o homem que muito sorri
É que guarda muita tristeza em si,
Como um rio enorme que vive,
E morre aos poucos enquanto resiste.
RESISTE!
Foi no entardecer de um verão moribundo,
Aparentemente muito normal, que floreceu
E logo, de súbito, feneceu, o fruto embrionário
Do calor dos sóis universal.
Desse embrião chamado Outono,
A vida veio receosa e letal.

E o frio dos tetos baixos, no inverno,
Inda é uma chama que se extingui cálida
E lentamente. Vivendo completamente
Seu fogo interno.

Lembrei-me da pedra lisa na fogueira
Vaporizando um café camponês:
Estimulantemente amigo.
Nestes dias de cores esvaídas,
Três tentativas de saída à beira,
E o fruto da escuridão regurgitou-se,
Fraco e tenso, cego em minhas tripas macias.

Sob a cama olhei um retrato de gente já morta,
No qual, segundo os sóis da noite,
Estava uma carta secreta para mim.
A receita da seiva quer ser criada!
E consumida em forma de sumo doce!
Nenhuma nuvem, nem ave ou castor
Puderam consolar-me naquele instante.
A dor do amor
É a rima da tristeza.
É gota de suor
De um corpo (copo) sem certeza.

É um golpe de mestre
Que estraçalha pensamento.
Que sossega quando esqueçe...
Quando cansa do momento.

É a flor que brota escura
E não divide sua beleza.
Não canta, não ri e não dura...
Chora enquanto acesa.
Ó menina bonita
Deixe a tristeza passar
Porque está tão decidida
A não me acompanhar?

Ah não, pense na vida!
Assim não pode ser.
Não vê? Não percebe?
Sem você é difícil viver.

Uma coisa eu te digo,
Me dá vontade de viajar!
Sair pelo mundo antigo,
Quem sabe até velejar!

Porque o tempo é nada
Logo passa, logo acaba.
Mas você continua a melhor companhia,
Menina bonita, camarada.
"Já que eu não posso te levar, quero que você me leve."
Lõbão
Esse amigo meu que te conto
É artista, joga baralho e toca tuba.
Não se preocupe se perder o bonde,
Esse ai é um garoto da mata, da noite, de cuba.
Esse cara é a cara de todo mundo.
Minha cara, tua cara, cara de tudo,
Até cara de pau se preciso
Pois nesse mundo o preciso não é tudo
Só o respeito acima do recado:
Esse cara é uma benção,
Vinda lá do outro lado.
Rubores desta página manchada
São canções do descontexto.
São como ruas de flor cálida,
Como eu, amando sem nenhum pretexto.

Penso, aliás, se estas uvas engarrafadas
Ousarão expurgar minha dor aos ventos?
Sob a prata intercalada,
Terão lido meus lamentos?

Alvo de fúria desregrada,
Sobre a fátua pérola de minha nuca,
Outra pedra tornou-se bruta
No canto da noite, em mim sulcada.

A minha falta de ira goza, em maio,
Subitamente, sua falta de pejo.
Das frias pradas do oriente entalho
Estas palavras trazidas no ensejo.
Dias de maio.
Fúria.
Hálito após o ensaio.
Rubi no céu da boca.
Tua lua rebelde e louca,
Sã e pouca,
Fosso que caio
Quando o prazer cobre
A dor espúria,
À carne transpira nua,
Rouca.
Derrama cabelos frágeis,
De tua nuca
Chorando em mim,
Sulcam com poucas
Pétalas de ópio
A seda dos seios carmim,
Dourada de noite.
Ao final,
Soprou, cedeu e adormeceu
Enfim,
Lagrimada de sal.
Ande por caminhar,
Estacione na vaga.
Desistir se o caminho
É desistente?
Este verso não diz
Absolutamente nada,
Esse verso sente.
Há o ato do tempo
Nos pingos de tinta
Dos sinos que abrigam o silêncio.

Quebrando às águas do vento
Ao final da vida sucinta
O que mente a espuma de dentro.

E nem que o fruto se ressinta
Será suspensa a razão do centro
Quando de uma mãe a outra desminta.

Serei para sempre atento
Ao sol do dia que brilha
Enquanto sugar-me ar adentro.
Nos matam
Unicamente
Por se amarem
O senhor tempo
E a total perdição
Em meu, seu
Corpo morno.
Como a noite você dança
Ao redor de mim balança
Com suas tranças esquecidas
E sua bolsa de marfim

Sobre o palco que é o chão
A eterna serenata diz não
Há uma ponte sobre as lágrimas
Que chovem sem fim

E ultrapassa os automoveis
E essa estrada segue as nuvens
Do seu arco de estrelas
Do seu quarto cor de carmim

E o seu morno travesseiro
De sua nuca tem o cheiro
Atravessa-me inteiro
Como um galho de jasmim
Eis em meu ver a era de vênus
E o inseto sabor de veneno.
Eis os capricórnios sinos.
Pontes sensuais de três lados.
Cabelos cristalinos.
Barco de espelhos naufragado.
Arco de universo em expansão.
Meu universo em contração.
Eis os versos da canção
Sobrevoando as ébrias
Éguas de azeite e cereja.
Surge o mamilo da flor de leite,
Surge enquanto fulge, enquanto dure,
Enquando deite!
Lábios
de mulher
Ameixa
flor de mel
Morna

saliva de rosa.

Prazer de café
aroma
Mulher de pérola
seda
Desliza frágil

a onda.
Meu espírito ardente
Defronta-se com o espelho
De minh'alma
Que belamente, de repente
Reflete os dois lados
Da lente de meus olhos.
"Aperte, então, forte, minha mão.
Tão perto, perto assim.
Colorido azul, como irmão:
Eu de você, você de mim.

Como cor de camaleão,
Até o chão, chovendo marfim,
A doce pele de teu seio
Vez em quando, sempre, em mim.

Bruta Lua, repleta de canção,
És a presença da pureza.
Essa prata lua de manjeiricão,
Como aroma da morte, com delicadeza.

Tú, Lua linda, mais profunda que tu mesma,
Sobrevoa a janela da manhã,
Derrama-me imenso mel de tristeza,
Inesquecível, como sabor de maçã."

09/12/08
Se eu fosse você provaria o nada
Ou ao menos aprenderia a levitar.
Não há morte, nem estrela que lhe diga:
Seu sabor é oliva, ou apenas sangue de luar.

Suprema. Pedra, fogo, tanto faz.
Não há canção que tua voz desafie o Sim,
Nem vazio, nem oceano de lágrima fugaz
Que não toque teus olhos em mim.

Do centro do ser ao palco de madeira
Tua nuca compõe o certo paladar do doce,
O samba dos tristes amores d'amoreira,
O aroma do quando. Esqueço o sobre.

Nem o tempo, inimigo do errado amor
Pode caminhar sobre ti, ele desiste.
O véu do choro é teu amigo maior,
O nunca, o nada, perto somente insiste.

Teu caminho é caminhar.
Hoje minha vida,
Sob um escombro,
Sobe, da solar
Indulgência, o ombro.

Noite entardecer breve,
Ainda que não na vida.
Na vida apenas emudece
O olhar contrário à saída.

Imorais pensamentos da sonolência
Quem, afinal, criticará a impermanência?
Frágil certeza dos Santos alimento.
Donos do futuro, lendários gerentes do tempo.

Hoje é o dia, dia negro;
Não à trevas, à pele.
Acordes soando adentro,
Eclipse musical do mundo.

Minhas palavras não são palavras.
Este verso não existe, apenas no não supremo.
Desista se o caminho é desistente.
Este verso não diz absolutamente nada,
Este verso sente.
Ser ilusão.
Ser ilusão.
-Hum, curioso.
-Tem sabor de ossos de ente.
O ser ilusão transpira ilusão,
E seu suor... tem um aroma pungente.
Explicação da ilusão,
Será o sabor da mente?
Ser a alça, borda, mentira?
Como a morte de uma Rosa, eternamente.
Como a eterna Rosa,
Ilusória Rosa da morte,
A não-ilusão existe,
Certamente não se sente.
Absurdamente não se ilude.
A não-desilusão não se desilude.
Não vive, pois não nasce.
Não cobra, pois não morre.
A ilusão apenas socorre. "
Sinto o gosto amêndoa em meu palato alto,
Reluzindo suas abóbadas, pele de ouro.
Sonhando queimar-te de dor, meu tesouro,
Meu coração já derrete seu salto.

Demasiado sabor asfixiado, firme em minhas mãos,
Dono dos aromas turcos enterrados n'areia,
Teu corpo explícito e diamante, explode!
Como pode? Derrama, em demasia, poeira.

Amo e detesto esta esfínge, de cabelos fáceis e negros.
Cheguei até a provar teu seio. Pobre de mim, fraquejo.
Por que sonho? Por que vejo-te, por que quero-te,
Dor que sustento, esqueço, o olhar?
Amo-te tanto.
Teu ser, meu encanto.
Versos do amor cotidiano.
Versos do que nunca se vê:
Estes que agora canto
Por ti são de todo meu querer.
Resta perceber o enquanto,
A verdade, o sabor do prazer.
Ver as cores inverno nas flores.
Compartilhar a vaidade das árvores.
Banhar-se sob a Lua tão brilhante e trágica.
Amo-te no lento caminhar do velho
E no azul intolerável
De uma pétala de céu.
Cheiro de mato molhado.
Seu filho adormeceu.
Num supremo caminhar viver,
E alcançar, enfim, o nada.
Amo-te tanto, meu amor,
Palavra.
O quinto intervalo
Do flajelo desolado
Esconde-se nos escombros,
Nos sombrios assovios,
A frequência incansável.

Esta nota líquida,
Esta nota sem som,
Este som de nata,
Saculeja,
Quilombola de pele preta,
Esculacha.
Equilíbra.
Este som,
Sem som,
Sem si,
Sem vida.
O Segredo de esquecer
Vive num tronco forte.
Meus versos, duros como viver,
Furam-no como a morte.

Em que floresta ou estrela esquecida
Estão os dedos de marte?
Quem eleva, releva:
Pesar e dor, antes que te mate.

Sabor de pele quente.
Saliva doce, mestiça.
Meu poema guarda o que sente
Meu rosto repleto de brisa.

Louca manhã de Lua.
Suco de prata, pêras e fresas.
Em teu corpo meu músculo flutua,
Despe-se, e foge com a Lua às pressas.

E vai...
E vai...
Esvai...
Esvai...
Entalo em talos estalos estátuas
Que esmagam e esmurram
Escarros de ágaua de ralo,
De casca de calo,
Do júbilo D'esparta
Espadas, estacas,
E lâmpadas, ábacos,
Aço de plástico
Planando acrobático
Girando pneumático
Brandindo escarláticos
Rubores apáticos
De odor acreático
Soprando sinérgicos
Sopranos sarcásticos
Sem seu brilho
Sem seu cílio
Sem seu siso
Sem ser seu
Sem ser
Sem tecido
Ou sem
Ter
Sido...
Contos de colírios
De colibrís à brisa
Em brasa, jovem flor
Deflagra a luz cinza.

Lágrimas pendulam da Lua
De tua rósea maçã sofrida
E teu seio ruivo, esfera de leite,
Nos poros de aroma da vida.

Da prata escorre meu pranto.
A claridade alforria meu septo.
De um cérebro tênue como um boto,
Brotam meus filhos decrépitos.

A sola da boca, a toca da noite,
Mecantam delírios de poucos açoites
E floram na rua e faunam distantes
Em sopros silentes, supremos, amantes.
O ar do sono
Pesando na carne
Reune água D'amanhã
Em poros de Sol
Onde arde a noite
De meus olhos irmã.

Ouve-se o oceano
Nas conchas
Nas mãos
Estrelas que sugam
Leques de sinos
De orquídeas
Em galhos marinhos
Predando nos ninhos
De vespa e dragão.

Farejam, solitários,
Colméias de luz
Entardecida.
Metamorfoseiam,
Ao sabor de meteoros,
Lagos de orelha
Sem dúvida.
O ar do sono
Pesando na carne
Reune água D'amanhã
Em poros de Sol
Onde arde a noite
De meus olhos irmã.

Ouve-se o oceano
Nas conchas
Nas mãos
Estrelas que sugam
Leques de sinos
De orquídeas
Em galhos marinhos
Predando nos ninhos
De vespa e dragão.

Farejam, solitários,
Colméias de luz
Entardecida.
Metamorfoseiam,
Ao sabor de meteoros,
Lagos de orelha
Sem dúvida.
Tenho medo do nada
Tenho medo do não-nada
De que tenho medo afinal?
Medo do medo?
Medo de mim?
O mundo não,
De mim o mundo há de ter medo!
Sou eu, sim!
O medo do mundo
O meu próprio medo,
Fora e dentro de mim
Ao mesmo tempo
Ao mesmo medo.
Neste Finalmente o ar tornou-me esclarecida.
Rodeou-me a contentação esparssa.
Hoje fumei o último cigarro da minha vida,
Num último sopro seco, sem nenhuma graça.

Decidi não mais contemplar, da morte, as bodas,
Nem sentir aquele vento do desencanto e desesperança.
Tornar-te quem tú és, de uma vez por todas,
Para nunca esquecer a cor de minha criança.

Lágrimas nas veias... Imensidão de astros...
Por ele a morte golpeia, seguindo incansável os rastros.
Mas sei que reina em meus seios, o sumo da vida plena.
Prefiro, por quê não, uns filhos, cheios d'água e mastros.

Este abismo não mais me envenena.
Quero tremer diante da vida linda.
Morar, ao final, na raiz de uma lua.
Quero morrer e ser ainda.

20/12/08
Foi no entardecer de um verão moribundo,
Aparentemente muito normal, que floreceu
E logo, de súbito, feneceu, o fruto embrionário
Do calor dos sóis universal.
Desse embrião chamado Outono,
A vida veio receosa e letal.

E o frio dos tetos baixos, no inverno,
Inda é uma chama que se extingui cálida
E lentamente. Vivendo completamente
Seu fogo interno.

Lembrei-me da pedra lisa na fogueira
Vaporizando um café camponês:
Estimulantemente amigo.
Nestes dias de cores esvaídas,
Três tentativas de saída à beira,
E o fruto da escuridão regurgitou-se,
Fraco e tenso, cego em minhas tripas macias.

Sob a cama olhei um retrato de gente já morta,
No qual, segundo os sóis da noite,
Estava uma carta secreta para mim.
A receita da seiva quer ser criada!
E consumida em forma de sumo doce!
Nenhuma nuvem, nem ave ou castor
Puderam consolar-me naquele instante.
Na abstração
Do sólido
Nestes termos:
Nome da Vida:
Corte
Nome da Morte:
Nada
Nome do Nada:
Tudo
Nome do Tudo:
Eu.
Eu tenho o nome que tenho
E por este nome
Muitos orgãos não respondem.
Meu pulmão esvaziará,
Meu coração há de parar,
Minha mente cairá
Numa dormência inevitável.
Meu ego desistirá,
Meu tempo se esgotará
E iniciará sua contagem oposta.
Meus olhos não mais exergarão
Nem mesmo, naturalmente, a escuridão.
O nome da vida?
Morte.
A Morte,
Fecho do Corte.
No tempo, sabe-se,
Não há Norte,
Sul ou Sorte.
Nome da Morte?
Vida.
Balançeada
Equilíbra:
Vida, Corte.
Nada, Morte.
Descendo meus passos
Avenida branca abaixo
Sob o olhar das nuvens
Do matutino dia,
De encontro vejo cacos
De um corpo vivo,
Que morto - acredito -
Certamente não estaria.
Foi como se todo o verde daquelas copas
Decidisse nascer neste dia
Com a mesma missão:
Brilhar suas cores para sua irmã,
Despedaçada no chão.
Bandidos...
Patifes covardes...
Meus pés levitaram
Sob um véu de pérola
Que seu espectro, pairando no ar, expelia.
Agora morta logo tornar-se-á outono...
E o inverno sua dor amenizaria.
Um inverno eterno e infinito.
O Sol,
Astro materno,
Está escrito,
Ao muito doce paladar lhe convertia.
O mesmo sol
Que clareava os sons moribundos dos galhos
E rugia seu raio perfurante
Para o meio de seu corpo...
Um tombo...
E eu não pude impedir... foi por pouco.
Seguirei em frente meu caminhar?
Creio que prefiro
Sentar-me imóvel onde estou,
Por completo de resguardo.
Ao meio-dia
O Sol e o Verde perderam a cor,
E o meu dia
Faleceu
Dolorosa
E delicada-
Mente
Mais
Cedo.
Após o balido
Algoz e bandido,
Meu sono despertou-me
Com mil estiletes
Carnívoros na escuridão do dia.

O que vejo no horizonte?
Cães como carvões
A roubar-me a luz
E a virgem com suas orelhas
Seduz, beijando a lua que nascia,
Correntes de dentes nas bocas,
O hálito das docas
Azulado de pérolas frias.

Ó Senhor da estalagem
Onde mais cedo eu bebia,
Veja as presas de sua morte aláda
Na pálida leoa que a ti vem esguia.

O espírito cria.
O dia diverte.
O lado da mão ardendo na espada
Chora salgadas lágrimas de
Montanha apagada.

Não menos que eu
A navegar no oceano de meu corpo.
A janela.
Vejo a janela.
E a mosquinha por trás dela.
A brisa faz colidir ao máximo
Seus ferros,
Causando ruídos
Que me pertubam o sono.
A janela
Mede um e meio por dois
E sua cor é a cor que vejo,
Sendo pele de manhã,
Asas de pavão à tarde
E botões de orquídea cintilante à noite.
Para manuseio há um pegadô prata
Como a poeira de aço do chão lunar,
Resistente como o solo onde fora extraido
Em estado líquido e musgo.
Os vidros são cálidos.
Isso porque sugo-lhes o sol quando durmo.
O motivo da mornidade é a infinidade
De gafanhotos canhotos dispostos a morrer
Para doar todo seu calor ao vidro.
Na parte superior há duas janelinhas acrobatas acopladas
Que vivem silentes e rígidas, como Nós,
A não ser quando se espanta a guilhotina lateral,
Acionando um engenhoso mecanismo articular,
Como joelhos,
Que empurram-nas, magníficas, para fora da parede.
Elas colhem o vento tonto da rua
E o joga para dentro do cômodo,
Diretamente sobre meu peito,
Deslizando até minhas narinas
E uivando em meus pulmões.
Depois de expelido marcha de volta ao avesso, exterior a mim.
É este o momento que decido,
Como Dalí,
Aqui ou acolá,
Contemplar a janela.
Essa janela que me sossega.
As vezes até sinto sua falta.
Ah! Janela...
Ela é meu sentido, o parto ordenou isso. Amo-a além de qualquer possibilidade, vida morte, de que sou - misteriosamente - constítuido. Mãe, mão, tudo.
Sofro de tanto meu peito
Rebentar suas fibras pungentes
Por justamente não comportar
Tamanha paixão brilhante em si.

Se sincero encravo (como mandamentos)
Em pele cores mornas que por ti cultivo,
É meu sussurro que provoca tempestades
E chove no inverno fios de pérola alva.

Momento em que tu, bela escultura rubra,
Capta o som levitante que tráz,
Imensamente, o calor do sangue
E da carne qual sou feito.

Oh! Como é formoso teu riso
Que de farto galanteio ouso adormecer
Em teu abraço. Quero teu convite para um
Passeio no por-do-sol de minh'alma.

Amo-te. Em sonhos ou divagações.
Amo-te. Em todas as canções que escrevo.

Quero tua nuvem de canela turca
E a folha d'aurora colhida n'amoreira
Mais próxima da madeira de teu jardim.
Anseio por mais de tua boca e tuas mãos.

Sinto-me então confesso e desnudo
Diante dos olhos que canto sem fim.
Despertado por cravos d'Espanha
E pequenos abris.

Rosa é a cor da pétala de céu
Que emerge de teus cabelos ventantes.
E a deste sobre tuas mãos macias a mim,
Que sofro ao florescer amores sem fim.

O bem, o bom e o mau também
Deliram sobre liras de notas
Inquietantes, dessas que trago pensante
Na sutil e doce aproximação de mãos.

Despeço-me despedaçado de amor
Em brisa recitando aládo.
Amo-te como outono mergulhado
Em grandes quantidades de romance.
I

Filha platina
De teu ser semelhante
Traga-me fogo seco
E incensos fumaçantes

Levitarei meus pés
Sobre águas nuas
Em tua pele de verduras,
Como sóis ensanguentados.

Rastros de mim, uivantes,
Logo ouço impertinente:
Quantias profanas vibrantes
De braços e lobos valentes.

Febris cantos.
Descontentes gargalhadas
Em rins de ganso ameno.
Um brasão de prata armada.

Loas de brisa
Perfumam a lagoa.
Da Lua até deslizam
Afagos a toa.

Raízes de cor madura
Soam e roem amores.
Pulsam epopéicas gasturas,
Corroem sábios horrores.

Ouça-me Dama cálida rosada!
Verta chuva de leite anis
Nos alçapões da noite pálida.
Canções serão raptadas e ingratas.

Dentes rompem.
Mordem ferro.
Berros de homem, enfim,
Silenciam o grande inferno.
Cá estou eu sentado
Sob esta tenda esvoaçante
Onde vive o cafezal,
Vendo o preto e o branco
Das vacas obsoletas
A ceifar o trigo de seus dentes
E lambuzar seu umbigo
Sobre seu lombo sinuoso.

Ao profundo poente deste passador
Há nuvens de caramujos de leite
Em prosódicas deliberações, como cometas de chumbo,
E, como neon, dizem sons de boca:
"Soa tua loa ao luar. Moa tua canoa ao mar.
Doa a quem perecer...
Á margem nua da lagoa rever"

Súbitamente a elipse
De pedras de mercúrio
No avesso cósmico do céu
Expande a incrível massa de brilho marroquíno
Ao canto inferior direito
Deste cenário onde, antes vazia,
Eis minha mão esquerda extrapolada de astros.

Percebo, como um faro,
Que há um mistério nesse prateado lunar
Semelhante as cantigas eslavas
E as jasmins em forma de delírios,
Onde o verde fenece repousado
No macio mar de pétalas de chão.

Flores de amor brotam
Em lagartos ensanguentados,
Após serem suas próprias refeições, auto-devorados.
Um ruído. Ouve? Outro!
Há ruídos por toda a parte! Ouve?
Pois ouça então estas ruínas.
Trevas desmoronam sobre o crepúsculo
No doce joelho das pirâmides
E dos frutos das oliveiras sem músculo.
1º Segundo

Hoje comemoro a solidão
De minha existência.
Não somente para saudar
Minha paz de momento
Que insisto em afirmar,
Mas cá sentado
Sobre verdes retorcidos
Destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto novamente a cárie amarga
Que desatina sensualmente,
Como deuses míticos
Pardos de certeza.

2º Segundo

Os ecos de Rimbaud
Harpas de cobre ácido
Escorrem e recobrem Mallarmé
Brilham em meus pés de raizes
Que sugam o chão
Então O interior
De minhas dimensões
Terrenas e arenosas vê
Dissimula o instante,
A estante,
O restante,
O mago peso árduo da vigília.

3º Segundo

Como a dor de uma agulha
E então imensamente integrado
Venho Eu cá sentar-me
Sobre esta paisagem musga
Além de quantativamente poética
Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.

4º Segundo

Como que neve flamejante
Em torturas de ópio e verrugas
Repletas de castas
É pleno como quando respirávamos
Os segundos do amor de Nefertite
O por-da-tarde de amor trancado
E úmido em nossas palpebras
Sob o nascer de um sol carnívoro
Iluminado por uma espiral corrente e tênue
Que une minha alma ao ar da manhã
Assim como esta amplidão de giz e cobertores
Que durante meio período encobre
Todas as indulgências
Sobre as quais depositamos
O que desejamos ou repelimos:
O primeiro segundo após a morte.

5º Segundo

Vomito esse desejo
Que arranha as paredes
De meu fígado e rebentam
Em constelações de magníficas
Explosões dizimatórias.
Estas arrancam vêias e corações
De astros suspensos
Diante de meus ombros
Como se este cenário fosse a realidade
Digerida nas entranhas
De cabras e rãs do entardecer.

6º Segundo

A árvore transversal está mais perto
De minhas costas transparentes do que a Lua
Gigantesca de fermento e moléstias,
Comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros
Bufando névoas de uma pasta escura e apodrecida
De um vício cravado no centro de meu peito
(assim como a Lua)
E como uma orquídea de diamante
Que sustenta o solo.

7º Segundo

O solo. Enigmático.
Ele agarra seu caule e suplica
Por mais uma dose de tempo químico.
A esperança daqueles negros comprimidos
Alcalóides tépidos projetados
Em rasas docas de abssinto com mercúrio
Pitadas de trovão e contraceptivos alcólicos.

8º Segundo

E vertigem?
Ou seria fuligem?
Tampouco derretem.
Onde estará a origem?

9º Segundo

Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador
E tudo,
E nada também
Diz a meus desdobramentos
Que meu momento de paz é a celebração
Da solidão de minha existência.
Estou sujeito a escrever trevas
Sobre papéis de nuvem e névoa.
Utilizo um elemento de força sólida
Um tinteiro de matéria humana em estado puro,
Que concilía teus negros universos
Á pura delicadeza de sentir-se um sopro
Ou uma sensação momentânea de que o presente
É um desdobramento de um tempo silente
Mas oportuno. Aceitar todas as infinitas
Possibilidades de trilhagem, sentir teu espírito
vagar sobre tua pele...
Posso tudo, afinal.
Posso escrever sobre tudo,
E tudo faz parte do meu universo.
Posso divagar a lua em canções flamencas.
Posso até tornar-me flor de pólen elegante,
E colorir todas as paredes do mundo com mais de mim.
Posso devorar insetos, lamber restos de chão.
Posso conformar-me que sou simplesmente imprevisível,
Enquanto cobro do meu frágil corpo
Eloquência, orgulho de qualquer coisa que afaste dor.
Diamantes malditos. Creio que um dia poderei fazê-los calar.
Ser poeta é ser imprevisivel.
É brilhar!
Tenho em mim todo sentimento do mundo.
E não culpem a mim, mas a ele.
Tenho carlos nos pés e mãos.
Tenho uma infantaria de gracejos obcenos
E pouco tempo para ser avesso e glória.
Ser apenas o que vier de encontro...
E boa memoria.
Ela conseguiu.
Neste corpo de mulher onde a alma é o cenário da vida,
Na distância das leis dos homens,
Ela consumiu sua essência perfumada de mortal.
Proferiu pródigas palavras.
Adormeceu nos contratos obscuros que,
Naturalmente, este corpo de mulher foi subjulgado a assinar.
Enfim, depois de todo esse tempo
- esse meteoro tempo -
Em cabides de ombros e regiões inóspitas da imaginação,
Em mente-ato onde espetáculos de cores e calores,
Sensações e orações,
O enorme, colossal e devastador meteoro colide
Trazendo toda a verdade e todo espinhoso mistério.
Frágil, o corpo de mulher sucumbe à pressão da colisão
E todo o vazio árduo do vácuo se resume no último segundo
Ao eterno e infinito pesar do nada sobre seus pulmões.
O peso do nada (após tudo) sobre teu umbigo.
O corpo equilibra-se sobre a tênue linha da silhueta da luz
E a escura e ampla imensidão da simplicidade de morrer alvorece em sua pele.
O turbilhão então colide. Concluí seu feito e segue em frente.
Sua carne descansa junto a seus membros, seus olhos, sua lingua,
Que por tanto tempo guiaram o caminho aberto do animal
Junto a seu profundo compadecimento, aceitação e reconhecimento.
Tudo fora levado para a incompreensão do vago soar da aurora dos mortos.
Para o esquecimento. Sacramentado por sua própria engenharia.
Dizem morte. Talvez.
Eu digo, porque necessito dizer,
Que é como o mais amargo e elegante acaso de uma harmonia.
Isto é mais um sussurro contemplativo.
Nele direi que recebi um prêmio valioso
Para recarregar com ira e gozo
O tormento vulgar da folha de meu crânio,
Que flui sonolento sobre o mesmo casco,
Mesmo cesto que proponho-me aqui elogiar
Através destes versos acesos
No perene insignificado das coisas.

Surpreendente tíbia de minha velocidade.
Metálicos e temperamentais navios cargueiros
Despedem-se, desgastados por minha humanidade
Que insiste em aflorar ao avesso
Quando sinto-me defronte a porta contrária da vida.

Essa humanidade da qual sou constituido
Sucumbe aos meus desejos
De (que delícia!) saborear como um doce sumo,
Levitar como uma nuvem de vento,
A terrível emoção e extravagância,
A permanente e flamejante exuberância
De constantemente
Testar-me.
Fuzilar-me.

Numa parede de terra insípida,
Frente aos quadros e ramos
Da árvore principal
Feminina,
Beijei-a.
Eu a observava.
Descrevia o tom que sua nuca transpirava
Trovões e teias. As ondulações negras e
Bem reverênciadas pela fragrância de sua noite
Contemplavam a singela sinfonia divina de seus olhos.

Concordo que música naquele instante
Soprava ventos quentes que em meu rosto,
De repente, soletravam notas de mulher tímida
Contra a presença térmica dos aromas.

Foi onde brotaram,
Fantasticamente,
Como água nascente,
Camaleões de adeus.
O amargo
Amargo.
Amargo.
O aspargo amargo.
O amargo do universo.
Universo amargo.
Largo amargo:
Largo universo.
Aspargo.
"O amargo largo do universo,
largo aspargo".
Aspargo amargo.
Largo aspargo do universo.
Um belo dia acordei do avesso.
Meus olhos possuiam um brilho claro
E quando despertei eles mergulharam num profundo breu,
Aparentemente inexplicável.
Os sons da janela semi-aberta,
A cortina aquecida pelo sol negro
E a eterna penumbra do meu quarto
Açoitaram meu coração e sentidos.
Ao cair de cara no chão cai de costas em flajelos de ferrões.
Mas o que é a dor quando não se enxerga a chaga?
De fato não me incomodavam os lampejos prateados
De meus sonhos falecidos.
Naquela escuridão, os clarões atingiam meu rosto como uma chuva de nuvens.
Quantas vezes, quantas frases longas que loucura nem delírio alcançam.
Podemos quando tudo e nada fundem-se num profundo galho de brisa,
Acordar como se tivessemos enfiado a cabeça no antônimo lado das coisas?
Frases longas.
Melhor encarar os fatos.
Um banho frio me faria bem.

06.08
Aquela tarde úmida e nascente soletrava meus passos de pensamento.
Cravei dois seixos em minha pele, naquelas nuvens de momento.
Giravam flores e saias frutíferas, como num imenso e novo carnaval.
Rodei mil vezes em meus sonos mornos, como quem espanta o mal.

Minha vila tinha céu azul e sol de espinhos flamejantes
Qualquer um que me visse caído em cama, não perturbariam-me o instante.
E qual dessas rosas sonho, senão aquela que me pariu o filho?
Penso que somente sopro minha vida, assim como dela faço meu caminho.

De minh`alma colhe o que já apodreceu nos galhos
Certo que não peço nada, nada além de seus frios calvários.
Logo a tenda de meus olhos abre-se numa nova paixão
Saciam sua sede com orvalho e cantam soltas na amplidão.

Não entendo essa gente que me duvida a longa palavra
Sempre têm que ultrapassar sua mente, como se fosse escrava?
Não lhes rogo mal infortúnios, nem lhes desejo sua ausência.
Breve de espanto e resguardado, sugo-lhes apenas a essência.

Tenho frios e pontiagudos dedos, que é para acalmar-me o pranto.
E quando, muita vez, me quedo externo de ser eu... Apenas canto.
Minha margem fulgura minha dormente dor de amante
Olha, pois, pega em tuas mãos depois, sofre logo a dor de adiante!

04.08