sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

1º Segundo

Hoje comemoro a solidão
De minha existência.
Não somente para saudar
Minha paz de momento
Que insisto em afirmar,
Mas cá sentado
Sobre verdes retorcidos
Destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto novamente a cárie amarga
Que desatina sensualmente,
Como deuses míticos
Pardos de certeza.

2º Segundo

Os ecos de Rimbaud
Harpas de cobre ácido
Escorrem e recobrem Mallarmé
Brilham em meus pés de raizes
Que sugam o chão
Então O interior
De minhas dimensões
Terrenas e arenosas vê
Dissimula o instante,
A estante,
O restante,
O mago peso árduo da vigília.

3º Segundo

Como a dor de uma agulha
E então imensamente integrado
Venho Eu cá sentar-me
Sobre esta paisagem musga
Além de quantativamente poética
Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.

4º Segundo

Como que neve flamejante
Em torturas de ópio e verrugas
Repletas de castas
É pleno como quando respirávamos
Os segundos do amor de Nefertite
O por-da-tarde de amor trancado
E úmido em nossas palpebras
Sob o nascer de um sol carnívoro
Iluminado por uma espiral corrente e tênue
Que une minha alma ao ar da manhã
Assim como esta amplidão de giz e cobertores
Que durante meio período encobre
Todas as indulgências
Sobre as quais depositamos
O que desejamos ou repelimos:
O primeiro segundo após a morte.

5º Segundo

Vomito esse desejo
Que arranha as paredes
De meu fígado e rebentam
Em constelações de magníficas
Explosões dizimatórias.
Estas arrancam vêias e corações
De astros suspensos
Diante de meus ombros
Como se este cenário fosse a realidade
Digerida nas entranhas
De cabras e rãs do entardecer.

6º Segundo

A árvore transversal está mais perto
De minhas costas transparentes do que a Lua
Gigantesca de fermento e moléstias,
Comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros
Bufando névoas de uma pasta escura e apodrecida
De um vício cravado no centro de meu peito
(assim como a Lua)
E como uma orquídea de diamante
Que sustenta o solo.

7º Segundo

O solo. Enigmático.
Ele agarra seu caule e suplica
Por mais uma dose de tempo químico.
A esperança daqueles negros comprimidos
Alcalóides tépidos projetados
Em rasas docas de abssinto com mercúrio
Pitadas de trovão e contraceptivos alcólicos.

8º Segundo

E vertigem?
Ou seria fuligem?
Tampouco derretem.
Onde estará a origem?

9º Segundo

Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador
E tudo,
E nada também
Diz a meus desdobramentos
Que meu momento de paz é a celebração
Da solidão de minha existência.

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