sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cá estou eu sentado
Sob esta tenda esvoaçante
Onde vive o cafezal,
Vendo o preto e o branco
Das vacas obsoletas
A ceifar o trigo de seus dentes
E lambuzar seu umbigo
Sobre seu lombo sinuoso.

Ao profundo poente deste passador
Há nuvens de caramujos de leite
Em prosódicas deliberações, como cometas de chumbo,
E, como neon, dizem sons de boca:
"Soa tua loa ao luar. Moa tua canoa ao mar.
Doa a quem perecer...
Á margem nua da lagoa rever"

Súbitamente a elipse
De pedras de mercúrio
No avesso cósmico do céu
Expande a incrível massa de brilho marroquíno
Ao canto inferior direito
Deste cenário onde, antes vazia,
Eis minha mão esquerda extrapolada de astros.

Percebo, como um faro,
Que há um mistério nesse prateado lunar
Semelhante as cantigas eslavas
E as jasmins em forma de delírios,
Onde o verde fenece repousado
No macio mar de pétalas de chão.

Flores de amor brotam
Em lagartos ensanguentados,
Após serem suas próprias refeições, auto-devorados.
Um ruído. Ouve? Outro!
Há ruídos por toda a parte! Ouve?
Pois ouça então estas ruínas.
Trevas desmoronam sobre o crepúsculo
No doce joelho das pirâmides
E dos frutos das oliveiras sem músculo.

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